Por que o emagrecimento começa e termina pela mentalidade

ilustracao-cerebro
Marta Fonseca
Marta Fonseca

Introdução

Na minha época de estudante de Psicologia, o movimento da autoajuda começou com força e se falava muito no poder do pensamento. Eu achava isso meio esotérico, abstrato, e não dava muita bola. Na verdade, eu tinha uma implicância enorme com esse discurso, pois não havia nenhuma pesquisa sobre o assunto nem comprovação científica.

Eu pensava, como assim, basta pensar e as coisas acontecem? Claro que não. Somos tão complexos, a ciência e a filosofia estão aí tentando nos desvendar há milênios, não é possível ser tão simplista assim.

E não é! As pesquisas em Psicologia e Neurociência evoluíram e com explicações mais profundas e complexas, hoje podemos concordar que sim nossos pensamentos têm bastante poder.

É claro que não basta pensar, mas o pensamento é sim o início de um longo processo bioquímico e psicológico que acontece dentro da gente. O que pensamos desencadeia emoções e as emoções nos levam a reações, ou seja, a comportamentos. Ora, são os comportamentos que agem sob o mundo, certo? Eles constroem (ou destroem) nossa realidade, por meio das nossas decisões, escolhas, ações, não-ações… tudo vai construindo nosso mundo externo.

Falando mais do ponto de vista técnico, num primeiro nível o que pensamos desencadeia reações químicas no nosso corpo. São hormônios e neurotransmissores liberados, como dopamina, adrenalina, cortisol, químicas que desencadeiam reações emocionais e físicas.

Diante de lembranças, imagens, pensamentos ruins, por exemplo, podemos chorar, sentir medo, raiva e perceber reações físicas no nosso corpo, como tensão, palpitação, suor, tremor. O contrário também ocorre com situações positivas. Se pensamos num fato que nos trouxe felicidade, alegria, é como se sentíssemos novamente as mesmas sensações.

É só pensarmos no poder dos filmes ou histórias que escutamos, que nos fazem sentir tristes e chorar, ou felizes e inundados com energia e disposição para mover o mundo.

Sim, nosso estado de ânimo, nossos sentimentos impactam nossas ações… e nossas ações mudam o mundo. Se estamos animados, motivados, cheios de energia, podemos iniciar um projeto confiantes e de fato fazer esse projeto dar certo e acontecer. Se estamos tristes, desesperançosos, ou fazemos pouco ou nem fazemos nada, e, consequentemente, não realizamos.

Então, podemos dizer que nossos pensamentos moldam nossas emoções e sentimentos, que moldam nossas ações. Claro, há mais elementos nesse processo, mas esse esquema já explica bastante.

Outro ponto importante, nós podemos moldar e treinar nosso pensamento. Claro, não somos um computador, o qual podemos configurar um programa e funcionar a partir dele. Até computadores “dão pau” e não funcionam da maneira que deveriam, então, imagine nós, seres humanos confusos, complexos e contraditórios!

Mas há sim a possiblidade de treinarmos nossos pensamentos… de moldarmos… e, quando eles não nos obedecem, quando a configuração não dá certo, podemos exercitar nossa capacidade de autorreflexão e autoquestionamento para descobrirmos o que “bugou” a programação e começar de novo.

E por que nossos pensamentos às vezes não nos obedecem? Ai que está a superficialidade da teoria da autoajuda, pois não vai além disso, mas nós podemos ultrapassar esse ponto, aprofundando nossa análise.

Já nos ensinou a Psicanálise que somos seres ambivalentes e contraditórios, que somos fruto de um inconsciente, portando, não basta o pensamento racional e consciente. Claro, tudo começa por aí, é o que temos num primeiro nível, mas precisamos ir mais além.

Por exemplo, quando estamos diante de um projeto, como de emagrecer e começar um estilo de vida baseado no autocuidado, na saúde, mas não conseguimos implementar, porque achamos muito penoso, demorado, não temos motivação ou disciplina. Podemos começar trabalhando nossos pensamentos para trazer o estado emocional de disposição, autoconfiança e toda a energia de que precisamos. Mas logo voltamos a pensar e a sentir que não vamos dar conta.

Nesse momento aparece um conflito: uma parte pensa e sente algo, outra parte o oposto. Aqui é um momento de parar e refletir, para perceber que pode haver outros pensamentos “por trás”, mais profundos e inconscientes, que estão atrapalhando ou impedindo o fluxo produtivo ou positivo de pensamentos + emoções = ações.

Por exemplo, algum tipo de proibição: me permito estar bem? Posso estar bem (me sinto com direito a estar bem, feliz?)? Ou se há algum tipo de identificação com uma mãe ou um pai que não cuidou da saúde? Algum tipo de pacto: prometi ser companheira de um pai ou uma mãe que não tiveram felicidade ou sucesso na vida?). São só alguns poucos exemplos de pensamentos / verdades que podem estar trazendo essa ambivalência ou conflito, que impedem de andarmos pra frente.

Para, então, conseguir “determinar” mais seus pensamentos, é necessário estar sempre em busca de se conhecer para assim entender suas contradições, conflitos e os pensamentos / verdades que podem estar na base, impedindo os pensamentos que você deseja ter de serem “implantados”.

Bom, precisamos de começar por algum ponto, certo? Sugiro começar pela prática dos pensamentos que ajudam a desenvolver uma mentalidade positiva e pró-mudança. As pesquisas em Psicologia Positiva e Neurociência nos mostram que a repetição é importante: cria caminhos neurais, faz nosso cérebro aprender esses caminhos e traz o automatismo.

Se o automatismo não acontece, passamos para a análise mais profunda de buscar as nossas contradições e conflitos para identificar outros pensamentos na base, que podem estar impedindo os que queremos de se tornarem realidade vivida.

Com essa introdução, passamos a pensar na prática como fazer isso… e como desenvolver as mentalidades que nos ajudam nas mudanças, como mudança de estilo de vida, e mais ainda mudam nosso jeito de ser e de levar a vida, nos tornando pessoas mais leves e, no final das contas, mais contentes com a gente mesma e com a vida.

Pensamento e emagrecimento

Se o caminho para mudar uma ação – seu comportamento – começa pela mudança do pensamento, fica claro que ficará impossível de emagrecer sem você mudar seu pensamento.

É assim que fazemos na minha mentoria, quando trabalhamos a mentalidade.

Mas esse não é, normalmente, o caminho que as pessoas fazem nos métodos tradicionais. Geralmente o foco é no comportamento, de maneira impositiva e de fora pra dentro, por exemplo: “a partir de amanhã não vou mais comer isso ou aqui, vou comer esse e aquele alimento, não vou mais exagerar, não vou mais beliscar… vou fazer atividade física, vou acordar cedo” … até chegar o dia e não conseguir implementar nada. Por que não foi possível? Porque não mudou o pensamento, que não mudou o sentimento.

Por exemplo, pensamentos como: “comida é a única coisa boa na vida, que comendo se alivia as dores, os estresses, de que a vida saudável é muito chata, de que é muito difícil mudar, que não consigo, que sempre fui assim, que sou incapaz, que não posso me dedicar a mim mesma, pois não tenho tempo, os outros são prioridades”, entre outras verdades que repetimos para nós mesmas…

Enquanto não mudarmos esses pensamentos na base, ou vai ser muito difícil a mudança ou ela não vai se sustentar no tempo.

Então, o começo do nosso trabalho precisa ser na mentalidade: precisa ser os pensamentos que estão na base para criarmos um ambiente mais propicio para a mudança e para o florescimento.

E o trabalho do pensamento não vai ser apenas no início do processo, mas sim ao longo de todo o percurso, pois não se muda um padrão de mentalidade apenas reconfigurando nosso cérebro. Não somos computadores… temos sim um longo aprendizado, sobre como funcionamos, quais são nossas contradições, conflitos e barreiras. Ai que entra o processo de autoconsciência e autodesenvolvimento.

Por isso que o emagrecimento leve, com bem-estar emocional, começa e termina com o pensamento, ou melhor, com o trabalho da mentalidade.

Mentalidades de que gosto de cultivar e que ajudam na mudança de comportamento

Acreditar em si

Muito difícil começar um processo de mudança se seu pensamento sobre si mesma é de que não consegue, de que não vai dar conta, não tem capacidade.

Acreditar em si mesma é fundamental, pois sem esse ponto de partida, não haverá motivação e energia para começar um processo de mudança. Você embarcaria num projeto se você não acreditasse que ele pudesse dar certo?

Como fazer?

  1. Comece por trabalhar em sim mesma essa crença de que não consegue. Não consegue por quê? Ouviu isso de alguém no seu passado?
  2. Procure na sua história exemplos de dificuldades que venceu, obstáculos que superou para resgatar uma imagem positiva de você mesma.
  3. Trabalhe sua cobrança de perfeição: muitas vezes concluímos que não conseguimos por nos exigir um perfeccionismo irreal, que nos faz pensar que se não somos perfeitas e completas, então não serve. Ou seja, é pensamento do tudo ou nada: se não consigo tudo, então sou nada.
  4. Lembre-se que a mudança, conseguir algo ou não, é fruto de um processo, um processo de pequenas vitórias com aprendizados, com melhorias, com aprimoramento. Ninguém acorda, decide e muda da noite pro dia. Quando você decidiu aprender a andar de bicicleta, a dirigir, a cozinhar, já simplesmente começou assim “de repente” a conseguir ou foi resultado de um processo?

Se dar o direito

Muitas de nós mulheres temos no nosso inconsciente pensamentos que limitam nossos direitos, por exemplo, que não posso me dedicar a mim mesma, pois tenho que cuidar de outras pessoas, não posso gastar tempo ou dinheiro comigo ou com minha saúde, pois a prioridade é cuidar de outras pessoas…e por aí vai.

Então, precisamos mudar essa mentalidade de que se priorizar não é permitido, de que seria egoísmo, seria errado.

Se você não se priorizar, quem vai fazê-lo? Se você não se cuidar, como vai cuidar de outras pessoas? Se você não estiver bem, vai conseguir cuidar de alguém? E se você estiver mal, física ou emocionalmente, vai ser boa companhia para outras pessoas?

Então, se cuidar, além de ser um direito, é um dever e um favor que você faz para as pessoas que você ama. E só se dando o direito de se cuidar que você vai conseguir implementar um processo de mudança.

Abertura – para o novo, diferente

Se você tem uma mentalidade fechada, se você é aquele tipo de pessoa que quer sempre fazer as coisas do mesmo jeito, como vai mudar? Como vai implementar comportamentos, hábitos e rotinas diferentes?

Por exemplo, se você pensa que não vive sem pão, como vai mudar sua rotina alimentar?

Para que uma mudança seja possível, precisar estar abertas para o novo, para o diferente. Precisamos ter a mentalidade de tentar fazer diferente, ao menos para testar. Mas não podemos testar com a ideia (às vezes inconsciente) de que apenas vamos provar para nós mesmas e para o mundo que estávamos certas. Precisamos tentar mudar realmente com a mente aberta para gostar do diferente, para aprender e adotar novos hábitos e jeitos de ser e fazer.

Sem essa abertura, qualquer tentativa de mudança será superficial e transitória. Então, preste atenção, será que no fundinho da sua mente não tem umas ideias assim: “eu sei que não vai dar certo”, “esse jeito diferente é errado”, “isso não existe” … etc.

Flexibilidade

Outra mentalidade importante é a da flexibilidade. Flexibilidade no sentido de poder improvisar, tentar de outra forma, caso não tenha dado certo de uma determinada forma. Essa mentalidade complementa a da abertura. É a flexibilidade que lhe permitirá ser criativa, achar novas saídas e soluções e isso pode ser determinante para um processo de mudança dar certo.  

Resiliência

Resiliência em psicologia significa a capacidade de passar por adversidades e resistir, mantendo a saúde mental, e até se desenvolver a partir da experiência. Com a mentalidade da resiliência, você consegue então encarar as dificuldades normais do processo como etapas naturais, desafios a superar, conseguindo assim persistir no processo. Você entende e aceita que tropeços vão acontecer, momentos difíceis também, e que o importante é manter o foco e continuar caminhando. Essa mentalidade vai te ajudar a não desistir e a enxergar o longo prazo.

Aprendizado

A mentalidade de aprendizado complementa a da resiliência. Ela te faz enxergar toda dificuldade, erro ou derrota como uma oportunidade de aprender e evoluir. Quem tem essa mentalidade foca no autodesenvolvimento e enxerga os ganhos de toda mudança.

Maturidade

Ah, quantas vezes não nos vemos reclamando da vida, reclamando dos sacrifícios de que temos que fazer para alcançar nossos objetivos?

Você é daquelas pessoas que só quer fazer o que é bom, gostoso e fácil? Pois saiba que essa atitude demonstra uma imaturidade psicológica, uma posição de “mimimi”, como dizem por aí, em que só quer o prazer, como as crianças pequenas fazem. Mas as crianças ainda não desenvolveram a capacidade de renunciar ao prazer em prol de objetivos maiores ou distantes do momento presente. Se elas querem algo, elas querem agora e pronto.

Nós adultas deveríamos ter aprendido que a vida adulta não é assim, só prazer, mesmo na alimentação. Isso é curioso, eu aposto que você consegue fazer os esforços necessários (renunciar ao prazer e focar no que precisa ser feito) para alcançar objetivos no trabalho, na família, no plano financeiro, mas aí com a comida ou com o seu corpo acha muito injusto ter de fazer qualquer restrição ou sacrifício.

Mas em relação à comida não dá para vivermos só de prazer… isso é inviável.

Então, é importante “amadurecermos” e cultivarmos a mentalidade de que escolhas fazem parte (para ganhar algo, preciso renunciar a outras coisas), fazer o que precisa ser feito, e sair da lamentação.

Positividade

É meio chavão falarmos que a vida é feita de coisas boas e coisas ruins, mas é verdade, só que muitas vezes esquecemos desse fato. A questão toda é para onde estará nosso foco. A ideia aqui não é negar as coisas “ruins” que nos acontece, isso é a tirania da positividade, ou positividade tóxica, além de ser irreal.

Mas sim podemos focar nossa mente em tudo o que dá errado ou para as coisas que estão dando certo. Mais profundo ainda é quando conseguirmos perceber que mesmo quando algo dá errado, ainda sim temos ganhos e aprendizados, ou seja, coisas positivas. Nada é preto no branco!

Lembra do desenho animado da hiena? Aquela que estava sempre reclamando, sempre achando que iria dar errado, então, você se identifica com ela?

O lado bom é que os estudos em Psicologia Positiva nos mostram que podemos treinar nosso cérebro para estar mais sensível ao que está dando certo na nossa vida e que cultivar essa mentalidade positiva traz bem-estar emocional e físico.

Além disso, se sentir positiva em relação à vida e a você mesma vai te trazer mais energia e motivação para implementar as mudanças necessárias para alcançar seus objetivos. É o que eu sempre falo, não funciona ir pela força do ódio, o caminho da leveza é muito mais gostoso e eficiente!

Um exercício prático para desenvolver a mentalidade positiva é o exercício da gratidão, em que você realça coisas que você pode estar grata na sua vida. Não precisa nem deve ser grandes acontecimentos, mas sim fatos singelos no seu dia a dia. Essa postura vai fazer seu cérebro perceber mais rápido e facilmente o que é positivo e trazer bem-estar.

Ah, Marta, mas como desenvolvo essas mentalidades? Existem alguns exercícios que ajudam, mas antes de tudo é importante a tomada de decisão. O passo seguinte é a autorreflexão: você se observar, aprender sobre seus padrões de pensamento, de reação… seus gatilhos, sua história para se conhecer. Nós só conseguimos mudar o que conhecemos. O próximo passo é se questionar e tentar fazer diferente. 

Terapia, diário, meditação, pedido de feedback de pessoas queridas, entre outras, são ferramentas e exercícios que podem ajudar nesse processo.

Minha mentoria é uma forma de seguir um passo a passo nesse processo e, em especial, um convite para colocar em ação, aplicar, ou seja, sair da “pensação” e passar a agir!

Me deixe seu comentário sobre o que achou do texto, se você se identificou com alguma parte dele. Vou adorar saber suas reflexões.

Beijos

Se você gostou desse conteúdo, compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode gostar

A vida pode ser leve!

Você quer ajuda no seu autodesenvolvimento?