Felicidade. Existe receita ou é uma questão de ponto de vista?

Marta Fonseca
Marta Fonseca

Estive pensando esses dias sobre a felicidade e as sensações a ela associadas. Para falar desse tema, trouxe um filme que me tocou bastante e me fez refletir sobre diversos pontos.

“Mais uma Rodada”, de Thomas Vinterberg, é daqueles filmes delicados, sem grandes pretensões ou produções, mas que, aos poucos, vai te envolvendo com os personagens e com a história. Ao final, você acha que gostou do filme, mas não sabe bem o porquê. O filme não traz conclusões rápidas ou óbvias sobre a chave para a felicidade. Deixa várias questões em suspenso e, em mim, ficou ressoando por dias, me fazendo refletir sobre a vida e a forma como podemos conduzi-la. 

Para quem gosta de filmes mais reflexivos, mas sem ser pesados, super indico! Foi vencedor do prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar deste ano, entre outros. 

Índice 

  1. História
  2. O que torna a vida sem graça
  3. O que torna a vida com graça
  4. O caminho fácil
  5. O caminho do trabalho, autodesenvolvimento, esforço
  6. O problema está fora ou dentro de você?
  7. O valor das pequenas coisas
  8. Como o seu entusiasmo / paixão contagia tudo e a todos

História 

O roteiro é simples, quatro amigos, também colegas de profissão como professores numa escola, resolvem testar uma teoria de que temos um déficit de álcool no sangue, que deve ser suprido pela ingestão.

Os personagens são de meia idade, alguns com famílias, outros sozinhos, mas todos com pontos em comum: crises existenciais e/ou familiares, vidas meio sem graça e sem muito sentido, ausência de felicidade plena, tédio e solidão. 

Ao ficarem levemente alcoolizados, todos seus problemas parecem esvanecer e eles conseguem voltar a sentir entusiasmo pela vida, pelas atividades cotidianas, se aproximam das pessoas, exercerem suas profissões com paixão e se revigoram. 

Não vou contar mais do filme para não ser spoiler. Deixo aqui minhas reflexões pós filme. 

O que torna a vida sem graça

Para muitas pessoas a vida está sem graça por a considerarem medíocre, pela rotina de repetição, pela falta de sentido. Olham em volta, em especial para as redes sociais (e isso é uma grande fonte de sofrimento psíquico), e vêm tantas pessoas conquistando objetos materiais e supostos sonhos (viagens espetaculares, relacionamentos cheios de amor, casas deslumbrantes, corpos esculturais etc). Se sentem fracassadas, isoladas, “fracas”. 

Se cobram, se criticam e se deprimem. Se perguntam como podem encontrar a felicidade e aonde ela está. Terminam num ciclo vicioso, pois acham que apenas elas têm fracassos, falhas, limites e uma vida “ordinária”, o que termina por atrapalhar “andar pra frente”, ter motivação e confiança para conseguir conquistar seus sonhos e ter mais satisfação na vida. 

O que torna a vida com graça

Responder a essa pergunta em poucas linhas não é possível, pois existem vários pontos a serem discutidos e, mais importante ainda, a resposta vai ser sempre relativizada pela cultura e pela individualidade. O que podemos pensar como introdução ao tema é que, então, não há uma receita única para a felicidade. Cada um deve procurar a sua. 

No caso de filme, ter uma vida tranquila, pacata, ser professor escolar, ter uma família e uma vida banal, isso, necessariamente, é a razão de estar infeliz? Não. Se isso trouxer valor, sentido, entusiasmo pra você, está perfeito, não? Nem todo mundo precisa viver uma vida de aventuras e grandes feitos para encontrar a felicidade, mas nas redes sociais parece que isso virou uma regra. 

Poderíamos aqui trazer teorias do bem-estar subjetivo e psicológico para nos ajudar a ir mais a fundo nessa resposta e apontar os elementos importantes para nos trazer mais contentamento e felicidade, mas deixo isso para outro texto. O que posso já introduzir é que para nos sentirmos felizes é preciso uma combinação de prazer momentâneo (nas experiências), mas, sobretudo, uma satisfação mais de longo prazo, que é baseada nas relações, nos sentidos e valores que damos à nossa vida. 

O caminho fácil

Qual foi a função do álcool na história do filme? Podemos dizer que ele trouxe “graça” à vida dos personagens. Eles passaram a ser professores entusiasmados, e seus alunos, motivados, devolviam paixão e gratidão a eles. Os casados se aproximaram de seus filhos e esposas e suas relações voltaram a ser mais íntimas e gratificantes. 

Bem, o álcool foi um caminho fácil, direto, como uma droga costuma ser (apesar de trazer consequências junto), mas teria um outro caminho, sem as consequências e riscos de usar substâncias psicoativas? 

O caminho do trabalho, autodesenvolvimento, esforço

Às vezes uma medicação (que não deixa de ser uma droga) é necessária para ajudar as pessoas a saírem do seu estado de torpor e voltar a sentir entusiasmo pela vida, mas há também outros percursos, complementares ou alternativos. 

O que eu conheço e indico (não que não haja outros) é o do autoconhecimento e autodesenvolvimento. Psicoterapia, autoquestionamento, meditação, vontade de se superar, se surpreender, ver as coisas de maneira diferente e se relacionar com o mundo de outra forma. De fato é um caminho um pouco mais demorado que apenas usar uma substância, demanda mais trabalho e esforço da sua parte, mas, com certeza, é mais autêntico e duradouro. 

O problema está fora ou dentro de você

Nesse processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento pode haver dois efeitos: por um lado você percebe o que te traz felicidade, quais são seus desejos e sonhos para a vida e tem mais chances de fazer suas escolhas com mais autenticidade para mudar o que for necessário. 

Por outro lado, há a possibilidade de aprender a ter prazer e satisfação com o que já está disponível, mesmo não sendo ainda o seu ideal. Com os exercícios da psicologia positiva ou da neuroplasticidade, que nos ajudam a desenvolver uma visão mais positiva e grata da vida, podemos reemquadrar os fatos e acontecimentos da vida de forma que eles não nos façam sofrer tanto, nos ajudam a estar presentes no momento atual e não tão presos nos remorsos do passados e nos temores do futuro, entre outras mudanças de mentalidade. 

Ponderando: é claro que podemos mudar nossa realidade externa, se você descobrir que não está satisfeito com ela, mas ao mesmo tempo, podemos desenvolver nosso interior para conseguir apreciar a realidade atual, nem que seja para nos trazer energia para mudá-la. 

O valor das pequenas coisas

Outra consequência desse processo de aprender a ter uma visão mais positiva da realidade e dos fatos é que conseguimos apreciar as pequenas coisas ou acontecimentos. A gratidão, já nos ensina o budismo e outras filosofias milenares, nos ajuda a sentirmos mais bem-estar e alegria de viver, mesmo em momentos difíceis. 

Como o seu entusiasmo / paixão contagia tudo e a todos

Outra reflexão que o filme me trouxe é sobre como nosso entusiasmo contamina tudo e a todos e isso ajuda a tudo “fluir” melhor. Veja que isso não tem nada a ver com lei da atração ou outras teorias parecidas. É uma simples lei da física: ação e reação, causa e efeito. Se você exala entusiasmo, gratidão, alegria, em geral, as pessoas te acolhem bem, devolvem reações parecidas e surgem maiores chances de conexão (que traz bem-estar), de parceria, de boas consequências, enfim, seus projetos podem acontecer de forma mais fácil… um círculo virtuoso se inicia. Foi sorte? Ou você construiu essa realidade? 

Pra não causar confusão: com essas reflexões não estou dizendo que devemos sempre estar entusiasmados, felizes, positivos. Isso é prisão, pressão, opressão e só traz mais infelicidade no longo prazo. A vida é feita de altos e baixos e de sentimentos bons e difíceis. 

O que não devemos é ficarmos anestesiados, no tédio, no morto-vivo e aí precisarmos de drogas para nos acordar! Se você estiver nesse estado, se mexa, se incomode, comece a investigar dentro de você e depois fora… para tentar entender o que se passa e o que você pode fazer pra voltar a ver graça no pequeno, no cotidiano, na vida. 

Espero que essas reflexões sirvam no seu processo de autoquestionamento e autodesenvolvimento. Escreva-me contando o que meu texto te fez pensar e sentir. Vou adorar trocar uma ideia com você. 

Se quiser ler uma crítica cinematográfica sobre o filme, esse link é ótimo:

https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/druk-mais-uma-rodada-e-o-tipo-de-filme-que-acontece-quando-os-problemas-acabam

Beijos,
Marta 

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